26 de abril de 2011

A dura tarefa de conciliar maternidade com profissão

Quando Téo era menor eu tentava estudar enquanto ele dormia ou estava distraído com algum brinquedo. Era um olho no computador, outro no bebê, que ainda não se locomovia por iniciativa própria. Desde que ele fez nove meses, passou a ser essencial ter uma babá para que eu pudesse estudar, já que meus olhos não podiam mais se afastar dois segundos dele sem protestos ou uma tentativa de se jogar da cama...
Uma vez o Yuri ficou rindo: eu estava com o computador no colo e Téo sentado do meu lado, com um brinquedo. Era só eu colocar o olho na tela que ele resmungava. Aí eu olhava para ele e ficava tudo bem, até que eu me virasse para o computador de novo. Tsc tsc... E essa era minha rotina, dividida entre a pesquisa e o Téo. Confesso que o bebê ganhou de lavada dos estudos, porque a maior parte do tempo era dele.
Com a babá senti uma sensação que não experimentava há muito tempo: poder sentar para ler um artigo e ir até o fim. Começar a escrever alguma coisa e terminar. Foi ótimo! Mas vieram as consequências: agora, Téo gosta de outras pessoas além de mim! Se eu tento pegá-lo no colo quando ele está com a babá, ele ri e a abraça. Faz a mesma coisa com o pai. Yuri acha que estou exagerando e sendo dramática. Mas é difícil perceber que não sou mais a única “pessoa preferida” dele.
Antes, eu passava o dia com ele, dava os banhos, o almoço, o lanche da tarde, a janta, brincava com ele à tarde, colocava para dormir. Eu recebia todos os sorrisos, ouvia todas as gargalhadas, ficava com todos os abraços. No fim do dia, quando ele fechava o olho, eu caía na cama exausta, com as unhas por fazer e olheiras profundas, mas com o coração muito feliz. Só que quando olhava o “rendimento” da minha pesquisa, ficava arrasada.
Agora, posso estudar e participar das atividades que quiser, mas passo o dia remoendo o fato de o Téo gostar da babá e de preferir o colo do pai, que fica com ele de manhã. Fico pensando se ele vai me culpar no futuro por não ter cuidado dele o tempo todo, se vai me perdoar por ter meus próprios interesses. Tá, isso tudo é uma bobagem enorme, que não deveria nem ser dita depois de tanta luta das mulheres para se libertarem do papel exclusivo de “mães”. Mas eu sinto isso! Esse é o problema.
Percebo que nós mulheres estamos condenadas a um sofrimento insolúvel: o drama da divisão, graças ao nosso papel de mães e, atualmente, à cobrança de sucesso profissional. Minha mãe escolheu se dedicar só aos filhos até que estivéssemos grandinhos. Resultado: se ressente dos prejuízos que a impediram de ter uma vida profissional satisfatória. Também conheço histórias de mulheres que choram porque não vão chegar em casa a tempo de verem os filhos acordados. E elas lamentam serem mães ausentes.
Eu posso me considerar uma privilegiada! Minha atividade de doutoranda me permite ficar em casa. Mesmo assim sinto que não me dedico à pesquisa tanto quanto uma mulher solteira e sem filhos, e também não sou uma mãe 100% , como as que podem ficar em casa só acompanhando a criação deles. Ó, Deus! Estaremos fadadas à mediocridade? Ou condenadas a abrir mão de alguma coisa?
Espero que a resposta seja não. Ainda estou aprendendo a lidar com tantas novidades e isso gera uma angústia, que imagino que não seja só minha. Acho que, com o tempo, vamos aprender a conciliar melhor tantos papéis, necessidades, cobranças... Que as nossas filhas tenham isso mais bem resolvido, para além do discurso feminista e do passado machista que deixa marcas no inconsciente.
Enquanto isso, me contento com o que eu tenho: Téo não dorme com a babá! Não aceita que ela o coloque para dormir. Nem cochilos ele tira com ela. Eu tenho que confortá-lo em meus braços, cantar para ele, deitá-lo no berço, dar para ele o travesseirinho, fazer um cafuné e deixá-lo no escurinho ainda ouvindo minha voz cantando, enquanto fecho a porta. Quando ele está com sono, vem para o meu colo esteja com quem estiver... J

3 comentários:

  1. É um dilema feminino mesmo, não tem jeito!! Mas eu acho que vc está se saindo super bem. Fica em casa e ainda consegue colocar o bebe pra dormir! Maravilha! Eu tenho babá pra me dar uma ajuda porque eu também preciso de um tempinho, ou nem estaria aqui comentando no blog (também faço uma especialização a distância), mas João quer que eu fique com ele o tempo todo. Tenho que me esconder pra ele não querer sair correndo do colo da babá. E olha que ela não fica muito tempo com ele seguido. Enfim, de outra lado, eu sinto falta de trabalhar. Já estamos pensando em como vai ser isso, porque ser mãe em tempo integral, na nossa geração, também é muito complicado! Aliás, não sabe de alguém que queira umas matérias de turismo na Indonésia não, heheheh?
    Beijos

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  2. Você disse tudo: queremos ser boas mães, mas só isso não basta mais! Para uma mulher de nossa geração ser mãe e apenas mãe é tão complicado quanto seria abdicar da maternidade há uns 50 anos atrás! Ai, super boto fé de você escrever alguma coisa de turismo, vida na Indonésia ou maternidade mesmo. Adoro seus textos desde o comecinho do seu blog! Boa sorte!
    Bjs

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  3. Seu post consegue de uma forma doce explicar todas as sensações e cobranças, talvez só nossas qto aos papéis que devemos exercer. To lendo tudinho e vendo como é dificil ser mãe...e a cada momento consigo ver que este papel deve ser encenado só p pessoas que estão dispostas a dividir...beijos

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